segunda-feira, 23 de março de 2009

A excomunhão da camisinha (por Tutty Vasques)

O discurso é, basicamente, o mesmo. O que o papa disse sobre preservativos na África dilacerada pela aids é mais ou menos o que o arcepisbo de Olinda e Recife disparou contra a gravidez interrompida para salvar a vida daquela menina de 9 anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco. Desde a Idade das Trevas, quando ainda não havia camisinha ou clínica de aborto, a igreja católica tenta convencer seu rebanho a combater o mal sem preservativos ou paliativos, só na base da fé e da espiritualidade individual. Como diriam no núcleo indiano da novela das oito, “hare baba”, papa!

Bento XVI praticamente excomungou a camisinha a caminho de Camarões, porta de entrada de sua primeira visita à África. Criticado por Deus e o mundo representado pela ONU, o Vaticano não se abala. Age como se guardasse na manga da batina alguma mensagem recém chegada do céu para alertar sobre a origem demoníaca de todo esse papo politicamente correto que anda por aí contaminando a Humanidade. Sai Satanás!

Tem religioso tomando gosto pelo culto ao absurdo. Nada mais justifica vir a público quando não é chamado para dizer, por exemplo, que a lavadora de roupas fez mais pela libertação feminina que a pílula anticoncepcional. Graças ao seu bom pai a igreja católica não depende dos votos de fiéis. Ou seria uma espécie de PTC, sem o Clodovil. Que Deus me perdoe!

Texto publicado na coluna Ambulatório da Notícia deste domingo no caderno Aliás do 'Estadão'.

http://blog.estadao.com.br/blog/tutty/?title=a_excomunhao_da_camisinha&more=1&c=1&tb=1&pb=1

terça-feira, 10 de março de 2009

O caso do aborto dos gêmeos

Li recentemente uma notícia sobre a excomunhão dada aos médicos e à mãe da menina de 9 anos que iria dar à luz a gêmeos, vítima de estupro pelo padastro.
esta notícia pode ser encontrada aqui.
Primeiro, gostaria de apontar o meu repúdio à atitude da Igreja Católica, em razão de manter cânones absolutamente ultrapassados e fora da realidade do mundo atual. No caso do artigo citado, trata-se de privilegiar o gênero masculino em detrimento do feminino. Itens semelhantes, com respeito à falta de visão, também são encontrados quando o assunto é o uso de preservativos. A Igreja mostra-se igualmente contra e pune os infratores com a excomunhão automática... Felizmente, não há nenhum controle sobre esse particular... Só falta instituírem uma Inquisição para este fim...

Há ainda este ótimo comentário, que também vale a pena ser lido.

Mas o artigo, em seu início, chama a atenção para um ponto vital deste problema, que é a atribuição do instante em que a vida se inicia. Qual é este instante?
Porém, é preciso ir um pouco mais fundo: o que é VIDA?
Acredito que se a Vida for corretamente definida e conceituada, haverá como evitar muito sofrimento e dor a quem não o merece, apenas em prol de uma piedade sem nexo.

De uma forma, geral, admite-se que a vida seja aquele fenômeno que anima a matéria.
Os cientistas afirmam que ao menos um dos processos abaixo precisa ocorrer para que possa se admitir a existência de vida:
1. Crescimento, produção de novas células
2. Metabolismo, consumo, transformação e armazenamento de energia e massa; crescimento por absorção e reorganização de massa; excreção de desperdício.
3. Movimento, quer movimento próprio ou movimento interno.
4. Reprodução, a capacidade de gerar entidades semelhantes a si própria.
5. Resposta a estímulos, a capacidade de avaliar as propriedades do ambiente que a rodeia e de agir em resposta a determinadas condições.

Porém, existe um aspecto que não é considerado, especialmente com relação ao feto: embora ele possua crescimento, metabolismo, movimento e resposta ao ambiente, não possui consciência. Os rosacruzes afirmam que enquanto o feto não inspirar pela primeira vez, a vida não se instalou. O fato é que aquele feto, até então, é um organismo dependente do organismo da mãe, usando-o para se alimentar e mesmo para as funções acima descritas. Caso não exista este meio, o feto não evoluirá.
Vou tornar esta situação um pouco mais fácil: o feto não possui capacidade (mesmo que instintiva) de decisão e, por conseguinte, depende inteiramente do organismo no qual se encontra hospedado - estou incluindo os casos de fertilização assistida.

No caso de uma criança anencéfala, a medicina já permite o aborto.
Mas existem outras situações que também deveriam ser contemplados, uma vez diagnosticados durante a gestação.

Podemos tentar ir além e refletir se pode ser considerada viva uma pessoa mantida artificialmente por aparelhos, como vimos recentemente na Itália.

Não se trata de simplesmente defender ou prolongar uma vida ou várias, mas sim, de proporcionar qualidade àquelas que vem chegando e as que estão partindo, inclusive, que possam partir com dignidade.

Uma outra definição interessante a respeito da Vida, diz que é o espaço de tempo decorrido entre o seu nascimento e morte. Que este tenha qualidade e que Deus possa estar com ele, em toda a sua vida.