segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Lendas de Natal

O Natal é, de fato a celebração de um evento muito anterior ao advento do Cristo. Associado com o Solstício de Inverno, embora com diferentes denominações e divindades, sempre teve em comum a celebração da vitória da Luz sobre as Trevas, do Bem sobre o Mal. O mito do nascimento de uma divindade solar é encontrado inclusive entre os persas e os egípcios.
Particularmente com respeito à data do nascimento do Cristo, a data de 06/01 era a preferida mas, até o século III, várias datas entre dezembro e abril coexistiam. No ano 350, Roma passou a adotar a data de 25/12, confirmada pelo Vaticano e, gradualmente, pelos demais cristãos (exceto pelos cristãos ortodoxos).
Assim, a celebração do Natal, como o fazemos em nossos dias, é uma mescla de vários costumes e crenças pré-cristãs com outras que foram se desenvolvendo a partir da Idade Média. Contudo, o atual formato do Natal surgiu definitivamente no início do século XX.

Origens persas e romanas
Yalda, também conhecido como Shab-e-Cheleh, é celebrado na véspera do primeiro dia do Inverno (21/12) pelo calendário iraniano, ou seja, junto ao Solstício de Inverno. Trata-se de um festival que celebra o nascimento do deus solar Mithra.
Era considerado de grande importância no Irã pré-muçulmano, embora continue sendo celebrado ainda em nossos dias, continuamente por uma período superior a 6000 anos. Alguns historiadores acreditam que este festival acabou se estendendo para a Europa através dos contatos entre Roma e o Império Persa, sendo posteriormente substituído pelo Natal em 25/12.
Este festival acabou sendo melhor conhecido através de sua variação romana, que se transformou na Saturnália. De todo modo, o significado é o mesmo adotado em outras culturas, celebrando a vitória da Luz sobre as Trevas.

Origens escandinavas
O Festival de Yule é de origem nórdica e servia para comemorar o início do Solstício de Inverno. Nesta data, era costume sacrificar um porco ao deus Freyr, associado à fertilidade. Justamente por isso, era celebrado com dança, festas e muita alegria.
A Bode de Yule é um dos mais antigos símbolos natalinos da Escandinávia. Sua origem é pré-cristã. O bode era associado ao deus Thor, que percorria os céus montado numa carruagem puxada por esses animais.
A função deste festival foi mudando ao longo do tempo, com jovens passando a ir de casa em casa durante o período natalino para realizar pequenas brincadeiras ou entoar canções. Uma das pessoas do grupo deveria se vestir como o Bode de Yule.
A partir do século XIX, o papel do Bode de Yule foi também se modificando, passando a ser aquele de dar presentes, com um dos homens da casa vestido como o Bode de Yule, até que essa tradição ser finalmente transformada na de Santa Claus, substituindo gradualmente a anterior.

Especificamente na Finlândia, encontramos a figura de Joulupukki, que literalmente significa Bode de Yule e é a origem de Santa Claus. Vestia-se em trajes vermelhos, usava um cajado e viajava num trenó puxado por renas.
Em sua origem, entretanto, as festividades em torno de Joulupukki eram inteiramente pagãs. O Bode de Yule era considerado um espírito demoníaco que, ao invés de presentear, ia recebê-los. O dito bode era uma criatura horrenda que assustava crianças. Não está muito claro como ele se transformou na benevolente figura que chegou até nossos dias. No entanto, o mais provável é que seja o resultado da união de vários costumes e crenças populares que se fundiram ao cristianismo.

Origens germânicas
Entre os povos germânicos pré-cristãos, também havia uma lenda associada ao mito de Odin que, por ocasião da festividade anual de Yule, reunia seu séquito de deuses e guerreiros que haviam perecido em combate para realizar uma grande caçada. As crianças enchiam as suas botas com cenouras, açúcar e palha, deixadas juntos às chaminés, para que fossem recolhidas por Sleipnir, o cavalo alado de Odin. Elas eram então recompensadas pelo deus, que deixava doces e presentes em suas botas.
Essa prática persistiu na Holanda, Bélgica e Alemanha mesmo após a adoção do cristianismo, sendo então associada a São Nicolau, que cumpria o mesmo papel de Odin, deixando doces e presentes nas botas das crianças merecedoras de recompensas. O costume foi levado para a América, onde as crianças deixavam suas meias penduradas junto à lareira.

São Nicolau /Santa Claus
A primeira versão deste santo dizia que era um bispo de Myra, no século IV, uma província da Anatólia. Era conhecido por sua generosidade com os pobres. Foi objeto de grande devoção na Holanda, Bélgica, Áustria e Alemanha, sendo representado sempre em trajes episcopais. Suas relíquias foram transportadas para Bari.
Santa Claus é de fato uma corruptela para um termo dinamarquês Sinterklaas, de fato uma forma contraída de Sint Nicolaas ou São Nicolau. Sinterklaas era também um mito baseado parcialmente na estória do bispo de Myra.

Papai Noel
O mito que hoje conhecemos como Papai Noel tem sua origem na fusão de diversos folclores, mas que tomou a forma hoje adotada a partir de sua caracterização pelos ingleses por volta do século XVII. Nessa época, surgiram seus trajes e as principais estórias a ele relacionadas, passando a representar a presença do espírito de Cristo, a partir de um conto escrito por Charles Dickens.
Assim, numa data próxima ao Festival de Yule, passou-se a trocar presentes acompanhados de poesias e cantos, desta vez, em associação com os presentes dos Três Reis Magos.

A figura do Papai Noel como o bom velhinho de longas barbas brancas e vestido em trajes vermelhos, cristalizou-se através de uma campanha publicitária da Coca-Cola no início do século XX, sendo associada ainda à filantropia e à benevolência. Sua residência oficial foi estabelecida no Pólo Norte. E graças ao enorme alcance da mídia, os mitos originais de Mithra, Freyr, Odin ou Thor, bem como aqueles associados ao nascimento do Cristo, perderam a sua importância para os aspectos comerciais da troca de presentes do dia de Natal.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Calendário da Tradição Astrológica

Tratam-se de dois ciclos que se combinam mutuamente e que começaram no ano 1 da nossa Era.
Primeiramente, existe um ciclo maior ou Grande Ciclo, de 36 anos, que é governado pelo astro que rege o primeiro ano do ciclo anual.
A seqüência que governa ambos os ciclos é obtida na Estrela Setenária.

O ciclo anual é contado sobre as linhas da estrela, no sentido anti-horário.
O ciclo maior é contado sobre as linhas da estrela, no sentido horário.
O astro que governa o ciclo maior exerce a sua influência sobre todos os 36 anos, manifestando-se com maior poder nos anos que também é o regente do ano, ou seja, nos anos 1, 8, 15, 22 e 29 de cada ciclo maior.
Cada ciclo anual se inicia quando o Sol ingressa no signo zodiacal de Áries.

Em 1981, o Sol iniciou seu Grande Ciclo, que irá até 2016.
Podemos montar então a seguinte tabela para o Grande Ciclo do Sol e as regências anuais:

1981/1988/1995/2002/2009 - Sol
1982/1989/1996/2003/2010 - Vênus
1983/1990/1997/2004/2011 - Mercúrio
1984/1991/1998/2005/2012 - Lua
1985/1992/1999/2006/2013 - Saturno
1986/1993/2000/2007/2014 - Júpiter
1987/1994/2001/2008/2015 - Marte

A mesma Estrela Setenária também governa os dias da semana e as horas planetárias.
O significado dos astros neste sistema calêndrico é diferente daquele utilizado pela Astrologia contemporânea.

Seguem alguns significados das horas planetárias e que podem ser estendidos aos dias da semana, aos ciclos anuais e maiores (use apenas como referência).

Saturno: Reflexão profunda, estruturação de idéias e execução de tarefas que requerem paciência e disciplina. Pode ser depressiva.
Júpiter: Adequada para qualquer tipo de tarefa. Ideal para a expansão de horizontes e para inspiração. É necessário ter cuidado com exageros.
Marte: Ação, conquistas, inícios. Tarefas assertivas e competitivas. É necessário ter cuidado com lutas e desentendimentos.
Sol: Atividades energéticas ou relacionadas com liderança. Há que ter cuidado com o orgulho.
Vênus: Harmonia, beleza. Ideal para o prazer, para os contatos sociais e relacionamentos. Cuidado com os pequenos excessos.
Mercúrio: Comunicação, envio de documentos e assinaturas, renovação de documentos. É uma boa hora para atividades de estudo, ensino em aprendizagem em geral. Cuidado com as indiscrições, a má língua e as mentiras.
Lua: Ideal para tarefas mundanas (limpeza, compras, higiene). Uma boa ocasião para rever sentimentos e emoções. Cuidado com a sensibilidade, pois as coisas tendem a estar mais instáveis em horas lunares.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A Verdadeira Astrologia Simbólica

Nos dias de hoje, é muito fácil obter um mapa astral.
Nem sequer é preciso conhecer Astrologia. Basta encontrar um dos inúmeros serviços oferecidos na Internet, digitar corretamente os dados de nascimento e, em frações de segundos, um gráfico cheio de símbolos logo surge na tela.
Graças aos mecanismos de busca ou a farta literatura nas prateleiras, há muitos que se atrevem a construir interpretações baseadas em “receitas de bolo” simplificadas e, na maior parte das vezes, parciais. Chegam ao ponto de argumentar que são “possessivos” porque “minha Vênus está em Escorpião”... como uma desculpa astrológica (esfarrapada).
Mas tem ainda o outro grupo, que estuda tarot, cabala ou alquimia e se depara com o emprego dos mesmos símbolos planetários e, de posse dos livros de Astrologia, conclui absurdos que fariam os antigos mestres se revolverem no caixão.
Neste artigo, gostaria de examinar exatamente este particular, dos símbolos planetários empregados em outras Artes.

É consenso que, das Artes, a Astrologia é a primeira a surgir, entre os sumérios, por volta do ano 3800 ou 3500 aec. A hipótese exógena é comumente aceita hoje em dia, particularmente a Hipótese Cosmológica de Nast e Bernal, lançada na década de 30. Nela, a evolução intelectual da humanidade se dá em áreas distintas, aos saltos, promovida por “instrutores” em locais definidos do globo. Assim, os sumérios foram instruídos em várias artes, como a Arquitetura, Leis e a Matemática. Eles desenvolveram um intrincado sistema numérico através dos quais realizavam seus cálculos, registrados em tabuinhas de argila (cerca de 30 delas se encontram preservadas no Museu de Londres), datadas de cerca de 3800 aec.
A Astrologia surgiu na esteira da Matemática e tinha como finalidade a marcação do tempo, ou seja, era calêndrica. Alguns dos símbolos que hoje empregamos surgiram neste período, embora tenham sido modificados ou adaptados pelos gregos.
Da mesma forma que a semana de sete dias e os nomes e significados de cada dia da semana.

Gostaria de destacar esse ponto.
Hoje, entende-se como Astrologia a arte que emprega a posição dos astros para emitir julgamentos. Por muito tempo, os presságios astrológicos eram emitidos em retrospecto, pois as posições dos astros eram conhecidas apenas por ocasião de seu registro. Não havia instrumental matemático para prever as suas posições futuras. Assim também era a Astrologia praticada pelos sumérios.

Existe um problema grave com o Conhecimento Astrológico, já que entre o seu surgimento e a sua sistematização há cerca de 3000 anos. Numa região e num tempo em que a humanidade se encontrava envolta num manto de superstições, não podemos esperar outra coisa do dito Conhecimento Astrológico. Ou seja, o conhecimento original da Astrologia ficou perdido para sempre e, a Astrologia praticada posteriormente não mantém nenhum vínculo com aquela recebida pelos sumérios.

Em cerca de 400 aec, começam a surgir as primeiras “enciclopédias” astrológicas, organizadas pelos gregos. Pouco tempo depois, surge a Escola de Alexandria, onde árabes e gregos se reuniram para sistematizar o conhecimento da época, inclusive o Astrológico.
O pensamento filosófico grego se fundiu com a álgebra árabe no cadinho desta Escola, resultando nos primeiros compêndios de Astrologia.
Contudo, seu modus operandi ainda era de presságios em retrospecto. Assim, para erigir o tema de nascimento, fitava-se o céu (e não a tela de um computador). E por falta de melhores referências (efemérides), não era possível fazer uma previsão nos moldes astronômicos como a que se usa empregar modernamente.
As tabelas resultantes, especialmente aquelas desenvolvidas por Abu Mas’Ar e conhecidas pelo nome de Firdárias, são uma espécie de calendário mágico estabelecido para o nativo a partir de certas condições, com o objetivo de cobrir a lacuna da Astrologia previsional.

A Alquimia organizou-se neste cadinho ideológico e tomou emprestados os símbolos utilizados pela Astrologia para designar os seus processos, pois isso lhe traria maior credibilidade e tornaria esta disciplina de entendimento apenas pelos "iniciados".
A Cabala é uma corrente filosófica que surge alguns milênios antes, de maneira independente da Astrologia. Porém, toda vez que há uma referência associada ao tempo ou a ciclos, utiliza igualmente os símbolos astrológicos. Em outras palavras, mantém a sua referência calêndrica associada à sua conotação e significados mágicos.

Ou seja, embora os símbolos sejam os mesmos, em diferentes disciplinas, um mesmo símbolo tem significados diferentes conforme a Arte que os utilize.

As primeiras efemérides razoáveis surgiram por volta de 200 aec e, apesar dos erros grosseiros que continham, permitiram aos astrólogos de então estabelecerem uma astrologia de predição, a partir da possibilidade de prever empiricamente onde um dado astro estaria num certo momento. Dá-se então a ruptura entre a Astrologia calêndrica e de forte componente mágica e aquela de referência astronômica.
Porém, os mitos gregos só passaram a fazer parte da Astrologia após C. G. Jung, no início do séc. XX. Antes disso, entre a publicação do Tetrabiblos, de Ptolomeu (cerca de 150 ec) e a Astrologia Cristã, de Lilly (séc. XVI), o aprendizado da Astrologia demandava um longo e árido estudo, que poderia levar até 12 anos!!!

Obras consultadas:
O Instinto Geométrico, Horst Ochmann, Ed. Sulina, 2002.
História da Astrologia, Kocku von Stucrad, Ed. Globo, 2007.
Classical Astrology for Moderm Living, Lee Lehman, Whitford Press, 1996.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Samhain - deuses e ancestrais entre nós

Junto com Beltane, este festival corresponde a um dos grandes portais de acesso ao Outro Mundo, dividindo o ano em duas estações, uma de luz e outra de escuridão. Alguns estudiosos sugerem que este festival era mais importante que Beltane e que provavelmente era início de todo o ciclo anual celta, uma vez que, para eles, o dia se iniciava à noite. Compreendiam que é no silêncio das sombras e da escuridão que se ouviam os sussurros que anunciavam os novos começos e a nova atividade das sementes sob a terra. Era um festival cuja celebração se iniciava na noite de 31 de outubro, o que deu origem ao Halloween.

Literalmente, significa fim do verão. A cristianização dos festivais pagãos fez corresponder com o “Dia de Todos os Santos” e do “Dia de Finados”. Em ambas ocasiões, preces e orações são dedicadas àqueles que já partiram e se encontram em outros planos de existência. Ao longo dos séculos, entretanto, a crença popular generalizada era de que nesses dias os véus entre os reinos ficam extremamente tênues e as almas transitavam livremente entre os vivos. E talvez por isso mesmo, esses dias sempre foram propícios para realizar práticas mágicas ou divinatórias, graças à “assessoria” dos povos dos outros reinos.

No Hemisfério Norte e para aqueles que vivem no campo, esta data é o início do inverno, época para recolher o gado e verificar as provisões para o período de frio e neve. Oferendas eram dedicadas aos deuses após as últimas colheitas e tudo que fosse possível seria estocado para resistir à mais fria estação do ano. É desnecessário dizer a importância do estoque de lenha, para o aquecimento dos lares.
Para os tradicionais irlandeses, esta era de fato a principal festa do ano, ocasião para se reunirem no centro de suas vilas. Realizavam a Festa de Tara, centrada no mito do Rei Sagrado com o coração da terra sagrada. Assim, encenava-se um ritual de concepção para o ano que se principiava. Em todas as casas da região, os fogos eram apagados até que os druidas acendessem novamente a chama para o novo ano.

Diz-se que por ocasião do Samhain os deuses se aproximam da Terra, assim, muitas oferendas e sacrifícios eram realizados em sua homenagem, bem como, ações de graças pelas novas colheitas. Muitas vezes, objetos representando os desejos de cada um eram igualmente oferecidos aos deuses e incinerados nas chamas do festival. Ao final, cada família conduzia uma tocha para a sua própria casa, para reacender os fogo dos lares e assim, reacender os sonhos, os desejos e as novas perspectivas para o ano que se iniciava.