domingo, 3 de fevereiro de 2008

Previsão, Previsibilidade e Livre-Arbítrio

Trata-se de um assunto delicado em qualquer boa roda de amigos, em razão das mais diversas crenças e pontos de vista existentes, ora condimentadas com uma boa pitada de bom senso, ora de clara conotação emocional, especialmente em se tratando de previsões humanas...
Mas existem outras áreas de atuação em que as previsões são acompanhadas com enorme interesse, como é o caso das previsões meteorológicas. As companhias de resseguros procuram estabelecer previsões de eventos (preferencialmente catastróficos) com uma antecedência de pelo menos dez anos. Na verdade, quando se trata de dinheiro ou investimentos, as previsões são sempre mais alongadas. Faz-se uma previsão quando aplicamos os nossos recursos pessoais num fundo de capitalização, de pensão ou ainda, num plano de aposentadoria privada.
Veja, não estou me referindo a prognósticos ou probabilidades, mas sim de prever o que ocorrerá dentro de um dado período de tempo. Prever é semelhante a antever, ou, sem quaisquer rodeios, buscar enxergar o futuro.

A maior parte das previsões é construída a partir de referências absolutamente matemáticas (que podem variar... a estatística é uma vasta área de estudos...), utilizando-se de parâmetros já conhecidos de eventos anteriores para, com base nesses dados estabelecer parâmetros futuros. Ou seja, se você investe um determinado valor numa caderneta de poupança constantemente durante dez anos, não será difícil calcular quanto terá ao final da aplicação, uma vez que conheça as taxas de juros vigentes durante o período. Mas, e se o banco quebrar? Ou se houver um plano econômico oficial que mude todas as regras? Ou ainda, se não estiver vivo daqui a dez anos?
Caso tenha observado, fazer previsões é mais comum do que poderíamos imaginar. O acerto e precisão das previsões é inversamente proporcional ao número de interferências e mudanças, considerados como fatores variáveis. É por essa razão que, no mercado financeiro, o desejável são regras fixas e claras, que permaneçam pelo maior tempo possível.

O objetivo de uma previsão é servir de base para um planejamento ou ainda, estabelecer um plano que ofereça o melhor resultado com o mínimo de risco. Quanto maior o número de variáveis conhecidas, maior será a tendência de acerto. No entanto, uma única variável desconhecida pode colocar toda uma previsão por água abaixo.
Por exemplo, manda-se uma sonda para o planeta Marte. Muitas previsões são feitas, com inúmeras possibilidades. Mas o clima deste planeta não é de todo conhecido e muito menos, as suas relações com os ventos solares, e muito menos as possíveis conseqüências sobre a sonda enviada meses ou anos antes. Em outras palavras, o risco envolvido é grande e a chance de algo dar errado, queiram os cientistas ou não, é enorme. A finalidade das previsões, neste caso, é numericamente comprovar aos investidores que estes riscos até que não são tão grandes. E mesmo assim, podemos ficar sem comunicação com a sonda porque se deparou com um enorme buraco do qual não consegue sair e ainda, e´acometida por uma violenta tempestade de areia marciana... rs...

No campo das previsões individuais, existem outros aspectos ainda. Além da natural curiosidade, o ser humano tem uma necessidade de tentar exercer um certo controle sobre a sua vida (e muitas vezes, também da vida alheia). É por esta razão que a maior parte das previsões individuais discorrem sobre os mesmos assuntos: amor e dinheiro.
O ser humano tem se tornado cada dia mais previsível em função do processo de globalização e de seus conseqüentes modismos. As mesmas aspirações e desejos ocorrem em toda a face do planeta. Basta apenas parametrizar o indivíduo dentro de sua escala de desejos. Que me perdoem os psicólogos, psiquiatras, religiosos e outros, esta é a mais pura verdade, pois em essência, o ser humano age cada vez mais dentro de padrões estabelecidos, sua existência se limitando a uma relação do que se espera dele e o que realmente alcança. Em outras palavras, entre os desejos da massa e os desejos individuais.
Prever, então, é estabelecer uma faixa de resultados possíveis dentro de uma linha de tempo própria àquele ser.

Faltam então tecer alguns comentários a respeito do livre-arbítrio. Será que um indivíduo pode realizar absolutamente tudo? Sabe-se que isto não é verdade. Se ele se encontra debilitado por uma doença, sobram-lhe duas alternativas: se esta doença tiver o seu próprio ciclo, ela pode se extinguir naturalmente; ou, se for de natureza grave, terá de se medicar e tratar, do contrário, terá de arcar com as seqüelas próprias daquele mal. O livre-arbítrio é o direito de escolha entre se tratar ou não, neste caso.
Ou seja, existem limitações ao livre-arbítrio e o tamanho deste tudo e está diretamente relacionado a uma condição física. E, sendo físico, é previsível. Uma pessoa que não souber idiomas não exercerá nenhuma ocupação destacada num país estrangeiro, não basta apenas invocar o livre-arbítrio. Ainda, para ser atleta, é preciso disposição, energia, disciplina e outras características associadas ao esporte escolhido. Alguém que não tolere trabalhar sob pressão deve procurar outra atividade e não há livre-arbítrio que supere essa condição.
Mas, e se isso realmente ocorrer? Milagre!!! E milagre é um assunto religioso...
Nada disso!!! Como citei anteriormente, uma previsão será tanto ou mais precisa na medida em que os fatores que concorrem para o seu desfecho sejam conhecidos. Para muitos, a chegada do homem á Lua foi um milagre, à época.

Portanto, as previsões são um fato usual da vida humana, tomada individualmente e em seu conjunto. As previsões são possíveis ao relacionar eventos e condições que se repetem ou se sucedem ciclicamente. Quanto menor o número de fatores desconhecidos, maior será a possibilidade de acerto das previsões, independente da metodologia empregada.
Prever não contradiz nenhum aspecto associado ao livre-arbítrio, uma vez que sua liberdade se encontra atrelada a certas condições físicas, sendo estas últimas absolutamente previsíveis.
Fatores imponderáveis existem; mas apenas o são enquanto desconhecidos. Uma vez conhecidos, podem ser normalmente utilizados em previsões.